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Como a ditadura fez há 50 anos, Heleno libera a floresta aos exploradores

 


Chico Alves - A cabeça do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), manteve-se praticamente imutável da década de 1960 até nossos dias. Ele é daqueles que chamam a ditadura de "contragolpe", acredita que o inimigo comunista continua à espreita e avalia que o simples fato de alguém cantar o Hino Nacional com a mão no peito o faz mais patriota que outros.

É parte desse pensamento anacrônico a convicção de que a Amazônia é uma região que precisa ser ocupada urgentemente por muitas pessoas e empresas, sejam elas potenciais desmatadoras ou não.

No regime militar, esse mote permitiu a ação de milhares de garimpeiros em Serra Pelada, no Pará, no início dos anos 1980, sob a coordenação do major Sebastião Curió, acusado de vários crimes. Também inspirou anúncios do governo como o que foi publicado na revista Realidade, na década de 1970, em que a estrada Transamazônica era exaltada e empreendedores eram convidados a se instalar na região. Sob uma foto da rodovia, a propaganda tinha o seguinte título: "Pista para você encontrar a mina de ouro".

Cinco décadas depois, justamente quando a carência do mundo por recursos naturais faz da floresta preservada um ativo capaz de gerar riqueza e desenvolvimento, militares que pensam como Heleno acham vantajoso afrouxar a fiscalização a desmatadores e permitir a ampliação da atividade de garimpeiros.

O lema "integrar para não entregar", cunhado na ditadura, continua vivo na mente de muitos generais da reserva e alguns da ativa.

É essa lógica que sustenta a liberação pelo ministro do GSI da exploração mineral em áreas até então intocadas da Amazônia, como mostrou reportagem do jornalista Vinicius Sassine, na Folha de S. Paulo. Como se já não bastasse o descontrole do garimpo ilegal em áreas mais acessíveis, crime praticado à vista de todos, como foi noticiado há poucos dias no Rio Madeira, Heleno libera agora a exploração em extensas terras remotas, intocadas e próximas a reservas indígenas.

A iniciativa do general é incoerente até com as próprias palavras. "Atuar na Amazônia é sempre uma atividade extremamente cara, extremamente difícil. Nossa capacidade de intervir é pequena", disse ele em uma entrevista à Band TV, há um ano. Heleno, que foi comandante militar na região, costuma citar essas dificuldades quando o governo é acusado de repressão insuficiente aos crimes ambientais.

Mesmo com as limitações de fiscalização que o próprio ministro reconhece, o GSI deu assentimento a empresas com longo histórico de autuação pelo Ibama e a garimpeiros que revolvem os rios em balsas com bombas de sucção em busca de ouro. Se o governo não consegue fiscalizar nem áreas próximas às capitais, que dirá nos confins da floresta.

Heleno, o vice-presidente Hamilton Mourão e outros generais costumam criticar órgãos técnicos como Ibama e ONGs que lutam contra a devastação da Amazônia. À objetividade dos dados numéricos de derrubada de árvores, queimadas e avanço do garimpo, os militares bolsonaristas alegam um grande conhecimento da região, por conta de sua atuação por lá.

Como se vê, três anos após a ideia de "integrar para não entregar" voltar a prevalecer, a gestão deles pode ser considerada desastrosa.

Se existem entre os oficiais do Exercito os que pensam diferente, eles que se apresentem. Ou então deixem o trabalho na Amazônia a cargo de profissionais civis sérios, que seguem os parâmetros científicos.

A continuar do jeito que está, em pouco tempo o verde-oliva da farda das forças terrestres não fará mais nenhum sentido.

*Publicado no Uol

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