Rejeitado por mais de 60% dos eleitores, que não votariam nele de jeito nenhum, Bolsonaro ainda não parece satisfeito: a cada semana, cria novas confusões para atormentar a população.
Às vésperas de completar o terceiro ano do seu desastroso mandato, considerado por 48% dos brasileiros o pior presidente da nossa história, segundo o Datafolha, o ex-capitão volta a boicotar o plano nacional de imunizações, agora para as crianças, desafiando as recomendações da Anvisa, como tem feito desde o início da pandemia.
Em sua permanente campanha de desinformação, ele cria fantasmas para assustar pais e mães de crianças de 5 a 11 anos.
Mesmo passando mais uma temporada de folga nas praias do litoral sul de São Paulo, onde fica hospedado numa base militar, entre uma dancinha e outra de funk misógino numa lancha, o presidente não sossega o facho.
Foi preciso, mais uma vez, o Supremo Tribunal Federal entrar em cena para obrigar o governo se mexer e providenciar a compra das vacinas.
O prazo marcado para que isso aconteça agora é o dia 5 de janeiro, mas Marcelo Queiroga, o frouxo ministro da Saúde, que virou papagaio de pirata do presidente, ainda quer fazer "consultar públicas" para estabelecer um cronograma de vacinação infantil, como se vidas não estivessem em jogo.
Da mesma forma, o governo levou duas semanas para regulamentar o passaporte de vacinas para quem entra no país, também por determinação do STF.
Só ontem foram anunciadas as novas regras para orientar os agentes de saúde, que vinham trabalhando no escuro, sem uma coordenação nacional para fazer o controle.
Como 90% da população brasileira é a favor das vacinas, fica a impressão que Bolsonaro trabalha dia e noite contra a sua reeleição. Ao confrontar o STF e a Anvisa, procura agradar apenas ao seu rebanho fiel, cada vez menor e mais radical. Bolsonaro pessoa física parece estar em luta permanente com o Bolsonaro presidente da República, cargo para o qual não tem a menor aptidão.
Dessa forma, ele se torna o maior cabo eleitoral de Lula, o herdeiro da maioria dos votos de eleitores arrependidos de 2018, que a congestionada "terceira via" ainda não encontrou um meio de capturar.
Jogada para o acostamento, a candidatura do ex-juiz Sergio Moro perdeu o embalo após a sua entrada triunfal em cena, muito saudada pelas viúvas do lavajatismo na mídia, mas que já estão jogando a toalha.
Sem melhores argumentos para defender seus candidatos nas redes sociais, bolsonaristas e lavajatistas limitam-se a atacar Lula e o PT, requentando velhas denúncias de eleições passadas, que já foram julgadas e arquivadas pela Justiça.
Enquanto isso, o Congresso faz a festa com o Orçamento da União para 2022, que só prevê R$ 40 bilhões para investimentos, mas reserva R$ 16,5 bilhões para as emendas secretas do relator, deixando fora do Auxílio Brasil mais de 3 milhões de famílias por falta de recursos.
Se não forem as vacinas, Bolsonaro vai inventar qualquer outra coisa para manter o fogo alto contra as instituições, em sua feroz ofensiva para promover o desmonte da máquina pública em todos os setores, da Funai ao Ibama, do INPE ao IBGE, da Educação à Saúde, da Capes à Receita Federal, até não sobrar pedra sobre pedra. Só as instituições militares estão a salvo, é claro.
O principal alvo do momento é a equipe técnica da Anvisa, que vem recebendo ameaças diárias de bolsonaristas por defender a vacinação infantil. Bolsonaro já pediu os nomes de todos eles. Para quê?
Quais serão os próximos alvos, além do Supremo e da imprensa, os inimigos permanentes?
Com a debandada da turma de Olavo de Carvalho, que também se sente traído, restou apenas o nano guru e estrategista mor general Augusto Heleno, o nosso Heleninho, chefe do GSI, sempre com novas ideias para colocar fogo no parquinho do Planalto, tomando Rivotril na veia.
Só falta agora eles arrumarem um inimigo externo. Quem sabe, pode ser o Chile, que acaba de eleger mais um "vermelho" nas nossas vizinhanças?
Restam ainda 376 dias até o final do mandato. É muito tempo...
Vida que recomeça.
*Kotscho/Uol
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