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A união entre Lula e Alckmin, se sacramentada, será o lance mais surpreendente da eleição

 


No PT, acredita-se que o paulista poderia cumprir função parecida com a do falecido empresário e senador mineiro José Alencar.

Geraldo Alckmin almoçou na última terça-feira, 30 de novembro, em um restaurante de São Paulo, o Figueira Rubaiyat. À mesa, havia três senhores com idades aparentemente próximas à dele, 69 anos. Um advogado conhecido do ex-governador chegou ao restaurante para uma confraternização de fim de ano e o cumprimentou. Estava acompanhado de colegas de profissão pertencentes ao grupo Prerrogativas e por um deputado federal do PT, o gaúcho Paulo Pimenta. Alckmin levantou-se, retribuiu o gesto e cumprimento do deputado. Tudo formal, segundo Pimenta. Alckmin é um tucano histórico, e três dias antes o PSDB escolhera um candidato a presidente para provavelmente enfrentar Lula e Jair Bolsonaro em 2022, o governador João Doria Jr. Uma testemunha da cena sentiu, porém, algo diferente no ar. Uma certa “efusividade”.

A decisão tucana de lançar Doria não significa lá muita coisa para Alckmin. Ou melhor, significa, mas não por ter agora um presidenciável de estimação. Há tempos Alckmin sopra por aí que deixaria o PSDB após as prévias. Doria era o favorito nelas e, embora tenha entrado na carreira política pelas mãos do ex-governador, traiu-o sem pestanejar, tomou-lhe o tucanato em São Paulo e, agora, admite no máximo apoiar o ex-padrinho para uma vaga ao Senado no ano que vem. Ao Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista, nem pensar. Seria correr o risco de levar o troco pela traição e perder o controle partidário estadual. Após fracassar na corrida presidencial de 2018, quando conseguiu menos de 5%, pior desempenho do PSDB desde o surgimentos da sigla em 1988, Alckmin imaginava ressurgir com outra candidatura a governador. Seguiria seu rumo após as prévias.

Nesta sexta-feira 26 de novembro, véspera de Doria triunfar nas prévias, ­Alckmin havia recebido um telefonema do presidente da Federação dos Químicos do Estado de São Paulo, Sérgio Luiz Leite, o Serginho. Fora convidado para conversar na segunda-feira (29) com os presidentes de quatro centrais sindicais (Força, UGT, CTB e Nova Central), na federação. Concordou no ato, reação interpretada como encorajadora pelos sindicalistas. Estes queriam sondá-lo sobre uma ideia que circula discretamente desde meados de novembro. Toparia ser vice de Lula? Seus anfitriões aprovam a dobradinha e o que ouviram a portas fechadas os deixou excitados. Alckmin expôs uma visão nacional, de quem está de olho em Brasília, não em São Paulo. “Ficou claro que ele aceita ser vice do Lula”, diz ­Miguel Torres, da Força. Eis por que, no almoço do dia seguinte, teria havido “efusividade” do (ainda) tucano.

Aliados dele no ninho têm impressão similar à dos sindicalistas. Um deputado federal do PSDB paulista comenta reservadamente em Brasília que o ex-governador está “animado” com a ideia de concorrer a vice, apesar de guardar silêncio  “Geraldo é um político diferente. Faz política parado”, afirma. Até a conclusão desta reportagem, na quinta-feira 2, Alckmin tinha dado uma única declaração pública sobre o assunto. Fora em 12 de novembro, depois de participar da gravação de um reality show de Márcio França, do PSB, seu último vice-governador e peça-chave do enredo. “Já disseram que eu vou ser candidato a senador, a governador, a vice-presidente. Vamos ouvir. Fico muito honrado com a lembrança do meu nome.”

E Lula, encara a parceria? Decididamente, sim. Horas antes do encontro fortuito entre Alckmin e Pimenta, tinha dado uma entrevista à Rádio Gaúcha e sido inquirido a respeito. “O Alckmin foi um governador responsável aqui em São Paulo Ele está numa definição de partido político. Nós estamos num processo de conversar, vamos ver, na hora em que eu definir ser candidato ou não, se é possível a gente construir uma aliança política. Eu preciso primeiro saber qual é o partido em que Alckmin vai entrar, ele não decidiu. Mas é o seguinte: eu quero construir uma chapa para ganhar as eleições e para mudar outra vez a história deste País.” Na recente viagem à Europa, também fora indagado e piscara para Alckmin “Não há nada que aconteceu entre mim e o ­Alckmin que não possa ser reconciliado.” Recorde-se: Lula disputou a reeleição em 2006 contra Alckmin, sob o signo do dito “mensalão”. O tucano conseguiu a proeza de ter 2,4 milhões de votos a menos no segundo turno do que no primeiro.

Um casamento entre Lula e Alckmin não é simples. Há senões de parte a parte, situação que tende a empurrar o desfecho da novela. O tucano guarda silêncio por uma questão de personalidade, aquele jeitão sério, circunspecto, tímido também por  razões políticas. O PSDB paulista é a oligarquia regional mais longeva do Brasil. Está no poder desde 1995. Alckmin é a face da hegemonia. Nas três vezes em que concorreu vitoriosamente ao Bandeirantes, duelou em duas com um petista (José Genoino, em 2002, e Aloizio Mercadante, em 2010) e, na terceira, o PT era do pelotão de frente (Alexandre Padilha, em 2014). Vai pular o muro e arriscar-se a perder o eleitorado? “Não é uma costura tranquila para ele”, anota um petista que acompanha as negociações.

Se pular o muro, seu destino provável seria o PSB, embora o PSD de Gilberto Kassab seja também uma opção. O PSB apoiou os governos de Lula, afastou-se do PT na era Dilma Rousseff e até apoiou o impeachment dela, mas se dispõe a uma reconciliação.  Este ano, filiou o lulista governador do Maranhão, Flávio Dino, ex-PCdoB, e o deputado federal Marcelo Freixo, ex-PSOL do Rio, defensor do “Volta, Lula”. É também a legenda do último vice de Alckmin no governo paulista, Márcio França,  voz que tenta fazer a cabeça do tucano para juntá-lo a Lula. Partiu de França a ideia da união, garantem fontes do PSB e do PT, embora o próprio tenha negado a CartaCapital essa paternidade e a jogado para Fernando Haddad uma versão que, para ser entendida, requer olhar para a eleição paulista e para negociações mais amplas entre PSB e PT.

*Com informações da Carta Capital

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